04 maio 2007

Frank Capra - o nome acima do título (1ªparte)

Quando se faz Cinema, não há regras, só pecados. E o pecado cardeal é o tédio!




















Não gostava nada de ser pobre. Tão-pouco gostava de ser camponês. Detestava a minha condição de garoto pobre, obrigado a trabalhar num jornal por uns míseros tostões, forçado a viver naquele infecto gueto siciliano de Los Angeles. Na minha família ninguém sabia ler ou escrever. Queria escapar àquele destino, queria dar o salto o mais depressa possível.
Procurei um estratagema, um apoio, uma vara que me catapultasse do meu miserável habitat de zés-ninguém para o opulento mundo dos que eram alguém.




















Tentei a via da cultura, procurei uma bagagem técnica. Mas a vara partiu-se em pleno salto. Ponderei outros saltos de mais rápidos resultados: o contrabando de bebidas alcoólicas, o pugilismo, o baseball, uma ou outra vigarice. Quando, por fim, encontrei a vara certa, verifiquei que não era de bambu, nem de vidro, nem de metal. A verdade é que nem sequer era uma vara. Era um tapete mágico – feito de espirais, de pequenos anéis cobertos por uma fina camada de plástico flexível que transportava, nos seus filamentos, o código genético de todas as artes cultivadas pelo Homem e cuja matéria dava vida, através de uma qualquer misteriosa magia, às esperanças, aos medos, aos sonhos da humanidade – o tapete mágico do Cinema! Foi graças ao seu feitiço que me catapultei para a fama.




















A esmagadora velocidade da história do cinema não tem paralelo na cronologia humana. Como se de um dilúvio se tratasse, arrastou consigo todas as outras artes, espalhando-as com generosidade pelo mundo inteiro. Da fertilidade dessa terra diluviana nasceram espontaneamente os estúdios, as salas de cinema, os artistas e toda a sua criatividade. Tudo o que somos, tudo o que temos, tudo o que fazemos nesta arte que é o cinema provém da arte em si – provém do FILME, esse tapete mágico!
Eu fui um dos privilegiados. Consegui agarrar-me às franjas desse tapete voador, içar-me a força de braços, até ficar em pé e partir para uma viagem de aventura. E que viagem! Como se tivesse embarcado num meteoro.





















Estúdio de Cinema! Mas que diabo podia eu fazer num estúdio de cinema? Aliás, vendo bem, que podia eu fazer neste momento fosse onde fosse? Seja como for, é impossível que tudo isto não tenha um significado qualquer. O que é que tenho a perder? Vou entrar no jogo.













Porque tudo na vida pode ser um filme, tudo na vida pode ser Como no Cinema

Como no Cinema
Frank Capra – O nome acima do título (1ª parte)



Pela primeira vez disponível na Internet:
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Depoimentos:
João Lopes
João Bénard da Costa

Textos:
Frank Capra (auto-biografia «O Nome Acima do Título»)

Narração:
Mário Dias

Assistência Técnica:
João Félix
Herlander Rui
Pedro Vieira
Paulo Canto e Castro
Francisco Raposo

Sons dos filmes: «Lost Horizon»; «It’s a Wonderful Life»

Produção; Montagem (em directo) e Realização:
Francisco Mateus

Tempo total: 35:29 min









Hollywood, por fim. Centro universal do glamour, cidade das estrelas: Chaplin, Pickford, Fairbanks, Talmage, Theda Bara, Valentino. Sim, mas, apesar de tudo, local ainda fora do meu alcance, quanto a Barbary Coast para os meninos bem de Pasadena. Renegara os louros académicos que a Universidade me prometia e sentia-me tão feliz com isso que me pus a assobiar e a marcar o ritmo de uma melodia em voga, batendo com as mãos no volante.

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Próxima emissão: «Frank Capra: o nome acima do título» (2ª parte)